Quem curte ler
e escrever adquire alguns hábitos bem interessantes. Um deles é revisitar o que
foi lido e o que foi escrito. Hoje revisitei o que li em julho de 2008. A obra
DEMIAN do cientista, poeta e ensaísta, Hermann Hesse que nasceu em 02 de julho
de 1877 na pequena cidade de Calv, na Alemanha. Ele era filho de um pregador pietista*, estudou
Latim e Teologia no seminário de Maulbrounner, do qual fugiu em 1891. Trabalhou
como livreiro e antiquário, dedicando-se exclusivamente a literatura a partir
de 1903. Entre seus títulos mais conhecidos estão O lobo da estepe, Demian e
Sidarta. Foi laureado como Prêmio Nobel de Literatura em 1946, e morreu no dia
9 de agosto de 1962.
Na página 8 me
fez refletir: Quem quiser ser tem que destruir um mundo, no sentido de romper
com o passado e as tradições já mortas, de desvincular-se do meio excessivamente
cômodo e seguro da infância para a consequente dolorosa busca da própria razão
de existir: ser é ousar ser. E apresenta em seguida a dualidade entre mundo
luminoso – ideal, e mundo sombrio – real. É por onde tem que passar um homem
para o encontro ou a edificação de sua personalidade.
E segue na
página 16 se referindo a história de cada homem, que é essencial, eterna e
divina, e que cada homem se viver em alguma parte e cumprir os ditames da
natureza, é algo maravilhoso e digno de toda atenção. Em cada um dos seres
humanos o espírito adquiriu forma, em cada um deles a criatura padece em qual é
crucificado um redentor. A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si
mesmo. Essa revisitação vem ao encontro das minhas inquietações de mundo e de vivências,
e me mostram a própria essência.
Na página 44. “A
maioria das coisas que nos explicam no colégio são, sem dúvida, verdadeiras,
mas também podem ser consideradas de um ponto de vista diferente daquele dos
professores, e então passam a apresentar quase sempre um significado mais amplo”,
como no exemplo a história de Caim, o qual tinha um sinal na fronte. A maneira
como nos contaram poderia nunca nos satisfazer.
E o autor
segue em sua narrativa “Um homem que desaviesse furiosamente com seu irmão, a
ponto de matá-lo, é algo que se ajusta dentro do possível; como também o fato
de haver sentido medo em seguida e ser humilhado. Mas que sua covardia seja
premiada com uma distinção que o ampara e inspira medo a todos os demais, já é
francamente estranho.
Outra
explicação para o mesmo fato: O que houve desde o princípio, e constituiu como
que o ponto originário da história, foi o sinal. Havia um homem em cujo rosto
era visível algo especial, algo que atemorizava os demais. Não se atreviam a
tocá-lo e sentiam medo diante dele e de seus filhos. Mas naturalmente o sinal
que aquele homem trazia na face não era nada material, não era, por exemplo,
como o de um carimbo dos correios, as coisas não costumavam acontecer, na vida
de maneira tão rudimentar. Tratava-se possivelmente de algo que talvez
sinistro, apenas perceptível, digamos um pouco mais de vivacidade e de audácia
no olhar. Aquele homem era poderoso e esparzia inquietude. Tinha um sinal. As
pessoas podiam explicar aquilo como quisessem.
E sempre
queremos aquilo que nos seja mais cômodo e que nos dê razão. Os filhos de Caim
marcados pelo sinal atemorizavam os demais e aquele sinal passou a ser
explicado não como a distinção, como realmente era, mas ao contrário. Passaram
a dizer que os homens assim marcados eram pessoas suspeitas e ímpias, o que na
verdade, ocorria. Pois os homens corajosos, e as pessoas de caráter sempre
inquietaram os demais. Tornava-se, portanto, francamente incômoda a existência
de uma raça especial de homens sem medo e capazes de infundir medo nos demais,
e então lhes atribuíram um apodo e uma lenda amarga para se vingarem daquela
raça e justificarem de certo modo os temores sofridos”.
São as
mensagens que os livros nos passam que encantam. São as correlações que existem
entre o romance e o romancista, e entre o leitor e a leitura de seu mundo, com
todas nuances de cores, de sabores e amores. Sigamos refletindo. Até a próxima
edição!
*Pietismo é um movimento oriundo do Luteranismo que valoriza as experiências individuais do crente. Tal movimento surgiu no final do século XVII, como oposição à negligência da ortodoxia luterana para com a dimensão pessoal da religião, e teve seu auge entre 1650-1800.