domingo, 30 de março de 2008

Em tempo de globalização auto-valorização local é fundamental.

Este é um período de grandes e profundas transformações resultantes de um fenômeno que alterou substancialmente o nosso modo de analisar o mundo, graças essencialmente à tecnologia, e uma íntima conexão entre gramáticas sociais localizadas e práticas de cunho global, derrubando as distâncias, as fronteiras de tempo e espaço, permitindo que um número crescente de indivíduos tome consciência de eventos que, até então, eles não tinham o menor conhecimento.

Isso significa dizer que só haverá cidadania plena quando as pessoas puderem, consciente e livremente, participar das decisões que afetarão seus próprios destinos, tanto a nível local, quanto global, já que esses dois âmbitos são interdependentes, e poderão possibilitar o aparecimento de posições mais críticas diante da realidade, podendo resultar em uma genuína conscientização do cidadão como um indivíduo que vive e pratica cotidianamente a democracia, entendida esta como um projeto sempre inacabado, que necessita constantemente de ser revisto, reconstruído e legitimado, realçando a tentativa de inclusão radical de todos, de modo igualitário, sem significar com isto uma negação das diferenças, das especificidades do outro.

Diante destas transformações e da agilidade tecnológica, sirvo-me dela, agora, para destacar a importância da realização do projeto REDESCOBRINDO A CIDADE por alunos da EEB Carlos Fries em Ipira SC. Nos últimos dias de cada ano letivo, tenho por hábito fazer uma avaliação geral com os alunos com objetivo de melhorar as aulas dadas recebendo críticas e sugestões, para que no próximo ano as aulas atendam suas expectativas, sejam agradáveis e que os motive a serem mais participativos. Foi a partir de suas sugestões que o projeto REDESCOBRINDO A CIDADE foi idealizado e pré-elaborado. Hoje já está aceito por eles e a cada dia são incorporadas novas idéias e sugestões dos próprios alunos. Enfim, o projeto já está em andamento: Elaboração de questionários, entrevistas, observação dos rios da cidade, busca de imagens, mapas e fotos antigas, e tem tudo para dar certo com o envolvimento de todos os alunos, os professores e os gestores da escola.

O projeto parte de uma abordagem ampla, NATUREZA, CULTURA E ECONOMIA para buscar informações junto ao público alvo – os moradores mais antigos e os empreendedores que fornecem os dados e contam suas histórias – o que aglutina a cultura e as opiniões sobre a fauna e flora local em entrevistas pessoais e as atividades econômicas desenvolvidas com o objetivo de oportunizar aos alunos a pesquisa de campo, onde possam redescobrir a cidade, reconhecendo os aspectos histórico-culturais, as atividades econômicas as modificações na natureza do lugar, para que possam vir a ser cidadãos com maior atuação na comunidade.

Quanto aos procedimentos e/ou as etapas metodológicas, fica-se com a alternativa, de ouvir os habitantes do lugar, enfatizando os dados obtidos através das aulas, e em depoimentos orais obtidos através de entrevistas abertas e conversas informais com pessoas de idade avançada, nas várias partes da cidade. Haja vista que essas histórias refletem o “mundo vivido”, e possibilitam uma melhor compreensão das relações entre o homem e os lugares, onde quem conta a história não está querendo manifestar competência, mas apenas narrar o fato vivido.

Este projeto é uma tentativa de analisar os aspectos naturais, histórico-culturais e atividades econômicas no Município de Ipira, sua importância para o ensino em todas as áreas e sua contribuição para a formação da cidadania. È também um esforço de desvendar qual o significado simbólico da cultura local, ou seja, que tipo de sentimento existe entre os habitantes, a cidade em que vivem, e o porquê deste sentimento, seja qual for o tipo, indo para além das relações econômicas, buscando uma identificação com as paisagens naturais e culturais, que também são percebidas através da representação de versões ideais, na pintura e na poesia, como também no discurso científico e nos escritos acadêmicos.

segunda-feira, 24 de março de 2008

QUAIS SÃO AS ESCOLHAS E DECISÕES DE UM INDIVÍDUO COLETIVO?

Quais são as escolhas e as decisões tomadas por um individuo enquanto individuo consciente das responsabilidades de seus atos em relação ao planeta, e enquanto indivíduo coletivo atuante no grupo inserido? É neste pensamento que seguem as minhas divagações. “O que age na mente de um indivíduo, também ocorre quanto ao consciente coletivo de um grupo. Para pertencer a um grupo de qualquer tipo, o preço tácito da admissão consiste em concordar em não notar a própria sensação de mal-estar e de dúvida, e certamente não questionar qualquer coisa que seja um desafio ao modo do grupo de fazer as coisas”.

Qual é o preço a ser pago para entrar em um determinado grupo? A primeira questão é que “o novo” já é motivo natural de rejeição. Um grupo fechado dentro de suas porteiras, limitados por suas mazelas tradicionais não evolui e não tem maturidade para aceitar qualquer ação ou opinião contrária. “O preço para entrar no grupo, nesse arranjo, é que a dissensão, mesmo a dissensão saudável, deve ser abafada” por todos do grupo, camuflando as pequenas verdades enraizadas e jamais ditas, pois quando a razão vem à tona ridiculariza e afronta os porões individuais.

Nestes porões se perdem. No escuro tateiam. Não encontram os degraus para chegar ao primeiro andar. A claridade fica trancada fora. Fecham-se. Trancam-se em porões escuros, sombrios e frios utilizando narcóticos da auto-ilusão, pois, cada um tem acesso a uma pequena verdade que precisa ser dita e não possuem a coragem de procurar e expor a verdade que pode salvar. Não conseguem abrir o casulo do silêncio para chegar às verdades vitais ao consciente coletivo. E tornam-se sem poder. E sofrem.

Enquanto isto, outros já estão no último andar de um prédio de vinte andares. Confortavelmente instalados. E com todo o poder em suas mãos nem percebem a dor dos que sofrem nos porões. Para sair desta prisão subterrânea é preciso se munir de muita coragem, tatear firmemente na escuridão subir os degraus, chegar ao primeiro andar, juntar-se aos demais. Muitos já estão vivendo dias claros no primeiro andar e já conseguem dizer a verdade aos donos do poder.

Os que vivem nos porões estão anestesiados e evitam adquirir informações que possam transformar seus temores vagos em realidades específicas que exijam ações decisivas e resolvem ignorar as implicações das informações que recebem como se o problema fosse de todos e não como se fosse de uma pessoa qualquer tentando esconder uma verdade dolorosa e ameaçadora desviando a atenção para outro alvo.

A atenção desviada para outro alvo é a coleta de informações cruciais para a sobrevivência. Ansiedade é a reposta, quando essa informação é registrada como uma ameaça. A parte mais curiosa dessa relação é evidente: podemos usar a atenção para negar a ameaça, protegendo-se do outro alvo e desse modo protegendo-se da própria ansiedade. Este é mais um preço a ser pago quando se está inserido num grupo. Os porões da auto-ilusão sufocam o indivíduo a ponto de cegar e escurecer os ambientes do primeiro andar. Não conseguem abandonar o frio do porão. O lado sombrio de suas mentes.

Com o impulso de obscurecer fatos desagradáveis um grupo pode exigir implicitamente dos seus membros o sacrifício da verdade para preservar uma ilusão. Assim, o estranho representa uma ameaça em potencial aos membros do grupo se usar a verdade, pois essa verdade solapa a ilusão compartilhada, ainda mais se revelada. Na era da informação a verdade é a melhor das mercadorias. A ilusão, uma espécie de moeda falsa.

domingo, 16 de março de 2008

O perigo da auto-ilusão.

A sensação é de um momento perigoso onde a auto-ilusão pode perpassar mais de uma mente, quiçá a mente planetária. Sabe-se das ameaças que o planeta enfrenta hora dantes nunca vistas. É o desconhecimento da destruição exponencial o assunto de urgência a ser tratado. Em período recente atrás, a humanidade estava sob a égide de uma guerra nuclear e das mudanças catastróficas que pudessem acarretar. Hoje se percebe a morte lenta, ecologicamente incorreta que assombra o planeta pelo desmatamento das florestas, do mau uso da terra para o cultivo e da água potável. É aqui onde a capacidade do ser humano de auto-iludir-se faz a sua melhor parte.

A televisão mostra todos os dias, o trânsito caótico das grandes cidades. A quantidade de carros aumentou tanto que está sendo praticamente inviável andar de casa para o trabalho no tempo previsto. “Em um trajeto que eu posso fazer em 40min estou levando 2hs”. “Desço do ônibus uma parada antes, por que o trânsito fica congestionado, demoro mais para chegar ao centro, prefiro ir a pé”. “O governo precisa arrumar uma saída, construir alternativas para melhorar o trânsito”. “Poderiam construir pistas para carros sobre o rio Tietê, já que não vão despoluir mesmo”. Essas são falas de pessoas que vivem o dia-a-dia de São Paulo, a maior cidade brasileira.

Os hábitos de consumo, em escala mundial, estão destruindo os recursos do planeta em uma velocidade sem paralelo em toda a história. O planeta, das gerações futuras, está sendo destruído, simplesmente pelo descaso com que se trata a ligação entre o modo de vida e seus efeitos sobre o planeta. E as pessoas que vivem no trânsito caótico auto-iludem-se quanto ao uso cômodo de um automóvel e responsabilizando qualquer pessoa, menos a si própria.

É essa a questão. Vive-se a própria vida ignorando as conseqüências para o planeta e para os descendentes, desconhecendo as conexões entre as decisões diárias – de comprar isso ou aquilo – e o ônus que essas condições representam para o planeta. Seria possível pesar, com exatidão relativa, o dano ecológico envolvido num dado ato de fabricação, e, depois disso ainda gerar um padrão que resuma a extensão do dano da fabricação de um carro, ou de uma caixa de alumínio? Quantas empresas automobilísticas se instalaram no Brasil nos últimos 10 anos?

Este mês a pauta é conscientização sobre a água. Com as informações que vão pipocar na imprensa, nas escolas, na internet, o que fazer com elas? Com este conhecimento adquirido como passar a assumir maior responsabilidade pelo impacto que o nosso modo de vida tem sobre o planeta? Porém esta informação não está acessível, e mesmo os que mais se preocupam com a ecologia não sabem exatamente qual é o efeito, e para a maioria, ignorar é a forma mais fácil que permite deslizar para uma grande mentira, ou auto-ilusão, convencendo-se que as pequenas ou grandes decisões de nossa vida material nem tem tanto impacto assim, e por isso pouco importa ao planeta.

"O que age na mente de um indivíduo, também ocorre quanto ao consciente coletivo de um grupo. Para pertencer a um grupo de qualquer tipo, o preço tácito da admissão consiste em concordar em não notar a própria sensação de mal-estar e de dúvida, e certamente não questionar qualquer coisa que seja um desafio ao modo do grupo de fazer as coisas”.

O parágrafo anterior está para o fechamento deste artigo, bem como para o início de outro, que envolve as decisões de um individuo enquanto individuo consciente das responsabilidades de seus atos em relação ao planeta, e enquanto indivíduo coletivo atuante no grupo inserido.

Fonte de inspiração: Livro – Mentiras Essenciais, Verdades Simples. A psicologia da auto-ilusão. Daniel Goleman. Autor de Inteligência emocional.

O GOSTO POR APRENDER E ENSINAR

                                                                                                    Os trabalhos apresentados na obra O gost...