Qual é o preço a ser pago para entrar em um determinado grupo? A primeira questão é que “o novo” já é motivo natural de rejeição. Um grupo fechado dentro de suas porteiras, limitados por suas mazelas tradicionais não evolui e não tem maturidade para aceitar qualquer ação ou opinião contrária. “O preço para entrar no grupo, nesse arranjo, é que a dissensão, mesmo a dissensão saudável, deve ser abafada” por todos do grupo, camuflando as pequenas verdades enraizadas e jamais ditas, pois quando a razão vem à tona ridiculariza e afronta os porões individuais.
Nestes porões se perdem. No escuro tateiam. Não encontram os degraus para chegar ao primeiro andar. A claridade fica trancada fora. Fecham-se. Trancam-se em porões escuros, sombrios e frios utilizando narcóticos da auto-ilusão, pois, cada um tem acesso a uma pequena verdade que precisa ser dita e não possuem a coragem de procurar e expor a verdade que pode salvar. Não conseguem abrir o casulo do silêncio para chegar às verdades vitais ao consciente coletivo. E tornam-se sem poder. E sofrem.
Enquanto isto, outros já estão no último andar de um prédio de vinte andares. Confortavelmente instalados. E com todo o poder em suas mãos nem percebem a dor dos que sofrem nos porões. Para sair desta prisão subterrânea é preciso se munir de muita coragem, tatear firmemente na escuridão subir os degraus, chegar ao primeiro andar, juntar-se aos demais. Muitos já estão vivendo dias claros no primeiro andar e já conseguem dizer a verdade aos donos do poder.
Os que vivem nos porões estão anestesiados e evitam adquirir informações que possam transformar seus temores vagos em realidades específicas que exijam ações decisivas e resolvem ignorar as implicações das informações que recebem como se o problema fosse de todos e não como se fosse de uma pessoa qualquer tentando esconder uma verdade dolorosa e ameaçadora desviando a atenção para outro alvo.
A atenção desviada para outro alvo é a coleta de informações cruciais para a sobrevivência. Ansiedade é a reposta, quando essa informação é registrada como uma ameaça. A parte mais curiosa dessa relação é evidente: podemos usar a atenção para negar a ameaça, protegendo-se do outro alvo e desse modo protegendo-se da própria ansiedade. Este é mais um preço a ser pago quando se está inserido num grupo. Os porões da auto-ilusão sufocam o indivíduo a ponto de cegar e escurecer os ambientes do primeiro andar. Não conseguem abandonar o frio do porão. O lado sombrio de suas mentes.
Com o impulso de obscurecer fatos desagradáveis um grupo pode exigir implicitamente dos seus membros o sacrifício da verdade para preservar uma ilusão. Assim, o estranho representa uma ameaça em potencial aos membros do grupo se usar a verdade, pois essa verdade solapa a ilusão compartilhada, ainda mais se revelada. Na era da informação a verdade é a melhor das mercadorias. A ilusão, uma espécie de moeda falsa.
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