(03/10/2017 10h)
A minha inquietude
diante das coisas que observo em mim e no mundo não é de agora. Acredito que é
das fases criança e adolescência, desde que me sinto gente pensante. Tenho
lembranças de situações que não me deixavam confortável. Nesse tempo já costumava
escrever sobre o que me provocava sentimentos desconhecidos, e que aos olhos de
muitos era normal. Essa inquietude me afastava da convivência de pessoas por
horas a fio. Queria estar só e resolver comigo mesma, abrandar as emoções. Seria
curiosidade? Uma possibilidade que explica a trajetória da minha vida?
A inquietude deu
origem ao movimento. No tempo infantil estive perto da natureza. Morava em uma
cidade muito pequena, longe da sede do município. Um distrito. Aos 10 anos mudamos
para uma cidade maior em busca de novas perspectivas. Aos 17 anos, em busca de
um primeiro sonho, sai da barra da saia da mãe. Eu queria ser professora de
educação física, devido ao meu envolvimento com os esportes escolares. Com esta
idade e com certa liberdade estava morando na capital do Estado.
Mudança de
ambiente radical. Tudo diferente. Uma grande cidade apresenta todas as formas, vários
aromas e muitos sabores. Eu queria desvendar todos. Andava pelas avenidas e
ruas estreitas, criava mentalmente os mapas por onde passava. À noite, antes de
dormir ficava revivendo mentalmente os caminhos percorridos e construía
novamente o mapa com o traçado das ruas. Será que neste momento o meu
inconsciente já estava absorvendo todas essas informações?
Fiz vestibular no
tempo certo, após concluir o segundo grau. Na década de 80 essa era a denominação
para os estudantes secundaristas. Fiz cursinho preparatório para o vestibular
em uma faculdade que oferecia o curso de educação física durante 6 meses. Para
minha alegria, ao olhar o resultado no jornal impresso, meu nome estava lá. Essa
lembrança é interessante pois não havia sensação de alegria, não comemorei nem
vibrei pela conquista. Parecia um sopro no ouvido. E não deu outra. Uma semana
depois recebi um telegrama da instituição que o resultado do vestibular tinha
sido divulgado erroneamente e que era preciso olhar novamente a lista de
aprovados.
Meu nome não
estava mais na nova lista. Tentei saber o motivo. A explicação que deram é que
deu erro na hora de digitar as notas e não haviam contabilizado as de 10
candidatos na primeira vez que divulgaram a lista. Decepção, tristeza,
resignação. Não tinha o que fazer. Meu sonho tinha ido por água a baixo. No
mesmo ano, tentei vestibular para o mesmo curso na universidade federal. Sem
chances né. Naquele tempo as universidades federais eram muito mais
concorridas. O acesso era somente por vestibular e as provas muito complexas
para quem estudava em escola pública.
Diante dessa
situação, mudança de trajetória. Período de descobertas e de manter-se em
movimento. As inquietações internas e as provocações ao observar a vida na
grande cidade, tornaram-se hábito. Neste movimento entrei para o mercado de
trabalho. Precisava me manter financeiramente e voltar o pensamento para o que
estava vivenciando naquele momento.
As minhas observações
cotidianas, os sentimentos e as emoções internas mais a cartografia da cidade e
a sociedade me inspiravam e iam para o papel no formato de poemas. Escrevia e
guardava. O resultado disso foi o primeiro livro, Lapidar o ser, publicado em
1998. Continuando a investigação do meu primeiro multiverso e do meu possível eu
paralelo consciente, seguiram-se os outros livros publicados, sendo o segundo
um complemento do primeiro, sob o título, Lapidar o Ser em nome de todos,
publicado em 2001, o terceiro, Boné de Feltro Vermelho em 2007 e o quarto livro
Um olhar feminino: Impressões, em 2010. Alegrias, alegrias, alegrias!
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