As notícias na imprensa, em geral, são desoladoras. É tanta safadeza e sacanagem neste mundo, que ser do bem, se tornou um desafio constante; e muitos conflitos internos são gerados. Se para as pessoas que se dizem do bem, em certos momentos, agem de forma errada, imaginem para quem está bem perto do mal? Imaginem para aqueles que não escolheram aonde nascer, que não tiveram o quê comer, muito menos amor, para viver. Imaginem para aqueles que foram atirados no mundo, e que, sem consciência entraram para o submundo?
Há os desprovidos de recursos financeiros, mas também, há os desprovidos de recursos humanitários. Se entrarmos em um barraco na favela, ou em uma mansão de um bairro nobre, o amor é um só, tem o mesmo valor. E as evidências são claras, se o amor não existir. Então não dá para admitir que somente os desprovidos de recursos financeiros cometam crimes e recebam punições severas. Os piores crimes, em minha opinião, são praticados por pessoas que tiveram acesso às melhores condições de vida, e conscientemente, utilizam-se do conhecimento para praticar o mal contra o outro, ou contra a sociedade. Daí, difícil mesmo, é em meio a tanta safadeza e sacanagem, fazer o mais simples: ser bom e educado.
Mas onde está a tal da educação? Uma vez que todos são educadores, dentro de uma escola, ou em outro lugar qualquer, independente da posição, função ou cargo que ocupa, a educação se torna transparente no comportamento e nas ações praticadas. Estudos que se empreenderam ao longo da História da Educação, ficaram comprovados que os primeiros anos de escolarização são marcados pelos laços afetivos, o que reforça a importância da afetividade nas relações pedagógicas.
Isso se deve ao fato de que o homem é, essencialmente, um ser social, o que dimensiona com eloqüência, a importância do vínculo que se estabelece consigo mesmo, o auto-conhecimento, a subjetividade; com os outros, saber ouvir; com o meio, no estabelecimento de suas diretrizes educacionais. É impossível, modernamente, negar o valor existencial do vínculo no desencadeamento de uma dinâmica positiva, que constitua o aporte do bom educar. Isso é o que aprendemos na teoria. É tudo muito lindo quando se busca resolver as questões da educação a partir de teorias muito bem formuladas. E na prática funciona?
E quando se trata de uma população residente em barracos, sem a menor condição de acesso às necessidades básicas de higiene, existe a possibilidade de estreitar o vínculo afetivo entre o educando e educador? Será que a proximidade do educador com uma criança limpa e perfumada é a mesma com uma criança que nunca teve orientação, nem condições de viver asseado?
Aqui está uma realidade muito distante da teoria. Não há como iludir-se ou tentar se enganar. Um professor não é São Francisco de Assis. O que deve ser feito para que um número maior de pessoas possa ter acesso às condições básicas de saúde e higiene? Quais são as pessoas que morrem de dengue? Como entender que a solução para este tipo de problema não está na teoria?
As políticas públicas baseadas em teorias de que oferecer “auxilio” gratuito é a maneira mais rápida de promover a dignidade nas pessoas, estão multiplicando o número de pessoas com todos os tipos de carência e que ficam esperando do poder público a solução de todos os seus problemas, sem exceção. Por isso, atualmente, acredito que é muito mais importante educar para que não morra a fome de viver com dignidade, por seu próprio mérito.