sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Formação de professores: Educar pela pesquisa e a multidisciplinaridade.

O tema de estudo é educar pela pesquisa e o desafio é a multidisciplinaridade. Neste mês, para o curso de formação de professores*, utilizou-se um texto de Pedro Demo. Inicia com o seguinte: “Construir saberes: esse é o papel da escola. Vimos que esses saberes são múltiplos. Eles também são históricos, são dinâmicos.” Os saberes são múltiplos e a multidisciplinaridade ainda velada. Afirmo isso com base em minha experiência na educação básica. 

Pode ser diferente e é possível nas escolas catarinenses? Conforme a atual conjuntura das escolas onde atuo, tenho dúvidas. Em todos os momentos que se buscou fomentar a participação no planejamento pedagógico coletivo, o resultado não foi satisfatório. Cada um dos pares deve ter seus argumentos e seus motivos particulares, e o que se tem é um trabalho multidisciplinar inexistente. Cada um trabalha por si e dentro do seu quadrado. 

Dai a questão não é ser individualista ou egoísta, mas é o desafio que se impõe diante dos comportamentos adotados por todos professores que atuam nas salas de aulas. Qual é a consciência da categoria? Voltando para o texto de Demo: “Para os cientistas, que, como nós, são profissionais do conhecimento, a principal virtude é a capacidade de colocar todas as verdades em cheque, refazendo perguntas básicas. Perguntar, perguntar, perguntar.” 

Perguntar está relacionado à capacidade de investigação do professor e sobre ele ser um investigador permanente de sua área de conhecimento e de seu campo profissional. Segundo Demo, para que isso aconteça, o professor “deve ter tempos remunerados e espaços especiais para pesquisa” ao mesmo tempo que os “contratos de trabalho de professores devem prever, obrigatoriamente, tempo para pesquisa e aprimoramento profissional”. Com base nesse fragmento, quais são as experiências de quem atua na rede estadual de educação de Santa Catarina? 

Se levar em consideração a minha experiência pessoal, e talvez de muitos outros profissionais vinculados à rede, o que está escrito no texto é uma ótima reflexão porque mostra uma realidade que poderia ser, mas não é. A experiência vivenciada por muitos que buscaram o aprimoramento profissional encontraram pouco respaldo por parte da governança. O que está disposto no texto vai aquém e na contramão da realidade de muitos professores que ainda atuam na rede, pois não lhes oportunizam “tempo para pesquisa e aprimoramento profissional”, nem valorização e reconhecimento financeiro. 

Se “a principal virtude é a capacidade de colocar todas as verdades em cheque, refazendo perguntas básicas” muitas são as perguntas sem respostas até o momento de uma professora que sempre pergunta, pergunta, pergunta, pois “a pesquisa inclui a percepção emancipatória do sujeito que busca fazer e fazer-se oportunidade, à medida que começa e se reconstitui pelo questionamento sistemático da realidade.” 

A melhor proposta é que os professores atuem em sala de aula, sejam profissionais dos conteúdos, saibam dominar as inúmeras técnicas e sejam detentores desses procedimentos para que possam desenvolver as mesmas habilidades no estudante. De que maneiras imaginam que isso possa acontecer, se resta tão pouco tempo para o professor ser pesquisador, planejador e executor de todas essas práticas pedagógicas e ainda um monte de relatórios a serem preenchidos? 

Além disso, quais são os outros motivos de tão pouco tempo destinado ao planejamento e desenvolvimento de todas as atividades de pesquisa do professor? Vamos imaginar? Talvez seja pelo acúmulo de aulas (carga horária excedente) que o professor precisa abarcar para dar conta das responsabilidades financeiras (transporte, moradia, alimentação, saúde, lazer). Quais são as possibilidades reais de um planejamento multidisciplinar nas unidades escolares, visto que muitos professores mal se encontram durante a semana por dividirem sua carga horária em duas ou mais escolas das redes municiais e estaduais? Eis algumas questões para refletir! 

Dando sequência ao que foi abordado por Demo, quanto ao termo reconstrução o qual, segundo o autor, compreende a instrumentação mais competente da cidadania, que é o conhecimento inovador e sempre renovado, que oferece a base da consciência crítica e a alavanca da intervenção inovadora, sendo, portanto a formulação pessoal, elaboração trabalhada, saber pensar, aprender a aprender. Partindo desse pressuposto como desenvolver um projeto de estudos? 

O desenvolvimento de um projeto envolve um processo de pesquisa, construção, participação, cooperação e articulação, que propicia a superação de dicotomias estabelecidas pelo paradigma dominante da ciência e as inter-relaciona em uma totalidade provisória perpassada elas noções de valor humano, solidariedade, respeito mútuo, tolerância e formação da cidadania, que caracteriza o paradigma educacional emergente (Moraes, 1997) e que, sob o meu olhar, ainda está engatinhando no atual sistema de educação. 

A partir do estudo deste texto, após o terceiro encontro por área no curso de formação continuada*, mais uma atividade foi proposta para ser colocada em prática em serviço, conforme organização da quantidade de horas que compõe o curso em sua totalidade. Estão trazendo um formato novo e cada professor precisa dar conta da sua carga horária para certificação. Como os professores estão se engajando e se estruturando nesse novo momento? 

Eu abraço todas as causas que possam mostrar novos rumos para a sala de aula. O que está sendo proposto é uma oportunidade de aprender a trabalhar por área nas escolas. Já no dia seguinte, estava eu conversando com as colegas da área de ciências humanas para desenvolvermos um projeto de estudos com os alunos a partir da tempestade de ideias que fizemos no encontro presencial do curso. Que esse desafio seja uma experiência incrível e que possamos dar um salto para o aprendizado multidisciplinar utilizando melhor o tempo e a criatividade de todos. Compartilharei a experiência na próxima edição. 

* Formação Continuada – Ressignificando o Trabalho Educativo Escolar - 3º encontro – Tema central: PESQUISA ESCOLAR - Data – 08 de outubro de 2019, na UNC Concórdia. 

Um aplauso caloroso a todos os professores comprometidos com ensino de qualidade. Juntos somos mais. Um somos nós.

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