quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Mais sobre a fome no mundo.

Se realmente houvesse interesse em acabar com a fome no mundo a rodada de Doha seria considerada um fracasso? Pois é. Muitos intelectuais, jornalistas, economistas, ou ligados ao agronegócio se manifestaram apontado tal encontro como um fiasco. Mas afinal o que vem a ser isto... Rodada de Doha? Aqui vai uma explicação: Rodada Doha nada mais é do que uma série de negociações em prol da liberalização do comércio mundial. A mesma foi criada em 2001, durante a 4ª Conferência Ministerial da OMC, em Doha (Qatar), cidade que lhe rendeu o nome. De fato, tais negociações, feitas entre as maiores potências comerciais do mundo, envolvem inúmeras questões e interesses de cada um, se apresentando como algo bastante complexo.
O principal problema da Rodada Doha é, justamente, a preocupação excessiva de cada país em favor de seus próprios interesses, uma vez que, teoricamente, o maior propósito das negociações seria o desenvolvimento dos países pobres e o combate à fome. Todas essas questões já foram discutidas nas rodadas em Cancun, Genebra, Paris, Hong Kong e Potsdam. De forma bastante simplificada, podemos dizer que os países emergentes, como a Índia, por exemplo, querem que a União Européia e os Estados Unidos diminuam os subsídios (impostos) aos produtos agrícolas estrangeiros. Já os países desenvolvidos querem, em troca, uma maior abertura para seus produtos industrializados. Em outras palavras, podemos dizer que todos querem mercados mais abertos para seus produtos, mas não desejam abrir seus próprios mercados, pois temem que tal abertura prejudique suas economias.
E então o que pensar sobre este assunto? Sinceramente... torna-se complicado para um rélis mortal que passa fome. Mas pelo menos o assunto está sendo debate no cenário mundial e em nível nacional. Aberto a quem estiver interesse em maiores informações. Hoje podemos estar por dentro do que afeta diretamente o nosso bolso. Isso é muito bom. E é preciso que todos prestem atenção para que possam ter capacidade de entender que a especulação no mercado internacional interfere na economia nacional, desde a compra da dona de casa até as grandes empresas exportadoras.
Outros ainda dizem que o Brasil deveria trazer ao centro das prioridades exportadoras a necessidade de se preparar qualitativamente e eficientemente, em todos os sentidos. Com tantos acordos já existentes, o país amarga com o engessamento ao Mercosul, portanto, a ordem é o empresariado do agronegócio se mexer cada vez mais por conta própria, nos meios de produção e nos modelos de comercialização.
É preciso entender também que estas rodadas de negócios incluem os países do G-8 que representam os interesses de países industrializados em detrimento das necessidades do resto do mundo. Países-chave com economias crescentes e grandes populações, como a China e a Índia, não estão representados, bem como os países africanos e latino-americanos. Estes países agora estão tendo acesso, participam, mas continuam tendo pouca expressão nas negociações, a ponto da divulgação ao mundo sair de forma negativa e grotesca. A rodada de Doha foi um fracasso.
O tal fracasso das negociações da Rodada Doha abre espaços para Estados Unidos e Europa implementarem novas políticas de subsídios internos e protecionistas e vale lembrar que os Estados Unidos e Europa estão querendo acabar com o Sistema Geral de Preferências (SGP), pelo qual o Brasil obteve uma receita de US$ 20,74 bilhões em exportações em 2007 com o argumento de que o Brasil já saiu do patamar de subdesenvolvimento para continuar com essa ajuda tarifária. Enfim, barreiras antigas e novas (que podem surgir) que vão impor ações que as absorvam melhor a médio e longo prazos.
É por estas e outras que me soa falso quando leio que o maior propósito das negociações seria o desenvolvimento dos países pobres e o combate à fome. Com todo o potencial brasileiro, – produção de grãos, pecuária, biocombustíveis, recursos naturais em abundância – não é possível baixar a cabeça aos que sempre lideraram o mercado internacional. Pelo contrário, há que se inovar, buscar novos espaços para seus produtos, alternativas diferentes, novos parceiros, e ampliar os horizontes tanto do ponto de vista de mercados geográficos quanto do ponto de vista de rentabilidade, para elevar a auto-estima dos brasileiros num todo.

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