quinta-feira, 4 de março de 2010

Olhares para a sala de aula brasileira.

O título está no plural por que me coloco neste olhar. Estou há apenas cinco anos como profissional do ensino público, porém faço parte da sala de aula brasileira, desde 1970. No atual momento, ora estou na cadeira do professor, ora na cadeira do aluno. O aprendizado é constante. Os cursos são anuais em busca de qualificação na área. E é com base nestes trinta anos de observação e análise crítica que cometo a ousadia de colocar alguns pontos de vista sobre o ensino do país. Encontrei subsídios para escrever sobre este assunto em uma matéria publicada na revista Veja nº 39, edição 2132, de 30 de setembro de 2009, p. 132, 134.

A matéria é sobre o quadro das escolas brasileiras sob o olhar do americano Marin Carnoy, 71 anos, doutor em economia pela Universidade de Chicago e professor na Universidade Stanford, nos Estados Unidos. É coordenador de uma pesquisa com o propósito de entender as razões para o mau ensino brasileiro. Ele assistiu a aulas em escolas públicas e privadas e traçou um cenário sobre a educação no Brasil. Os destaques, deste especialista, passam por questões como: aulas do século passado, muita teoria e distanciamento dos conceitos originais, valorização de mestres brilhantes, vigilância sobre os professores, à beira da mediocridade, acesso a universidade gratuita para quem tem condições de pagar.

Para ele ficou claro que nas escolas brasileiras os alunos recebem poucos desafios intelectuais. Passam muito tempo copiando uma lição do quadro negro, como se estivessem em escolas do século XIX, e o improviso por parte dos professores, que utilizam grande parte das aulas com trabalhos em grupo que não funcionam. Ele acredita que a razão disso é a falta de qualificação dos professores. Somente um professor qualificado é capaz de conferir eficiência ao trabalho em equipe. O que falta para o Brasil é entender que os professores devem ser bem treinados para ensinar. “Um bom professor de matemática ou de português é aquele que domina o conteúdo e consegue passá-lo adiante de maneira atraente.”

As teorias pedagógicas não podem ser apenas difundidas e o professor não deve ser apenas um bom teórico. Não basta apenas defender determinadas teorias, é preciso entender se elas podem ser aplicadas na prática. Por exemplo, o “construtivismo”, uma das teorias aplicadas está longe do conceito original, daquele de Piaget (psicólogo suíço, 1896-1980). Apesar de que este não é um problema só do Brasil. É preciso um olhar mais científico e mais apurado sobre o que se passa nas salas de aula. Há excesso de ideologia na educação brasileira. Este pode ser o motivo de faltar o básico: bons professores.

Sobre a vigilância dos professores ele destaca que é preciso inspeção e prestação de contas do trabalho, como já ocorre em outros países. Esta é uma prática abominada por muitos professores, com certeza. Imaginem se vão admitir serem inspecionados. Serão radicalmente contra. O mais engraçado é que, no caso do ensino público estadual, os três primeiros anos são inspecionados - o estágio probatório. Ao terminar este período não há mais nada. E daí? Quem quiser pode se atirar nas cordas? Quem fiscaliza? Quais são os incentivos aos bons professores? Todos caem na vala comum. Ainda por cima o que mais se ouve falar é na desagregação da classe. Eu acredito que em todas as classes de profissionais existem os bem intencionados e, os espertos. Como agregar estas duas categorias?

A boa notícia é que os brasileiros já começaram a pensar em educação de qualidade, mesmo com um pouco de atraso. Para mais notícias boas sobre educação é fundamental sair da mediocridade. Há uma visão distorcida da realidade. As notas dos alunos são muito baixas e até mesmo os melhores alunos são nivelados por baixo. Se conseguirem uma nota acima da média, já estão satisfeitos. Os 10% melhores, são menos preparados que os piores estudantes da Finlândia, país que define suas metas num altíssimo padrão de excelência acadêmica.

Para que o cenário brasileiro seja destaque, e se firme como potência no mundo, é preciso maiores investimentos em universidades, e que haja cobrança de mensalidades para quem tem condições de pagar. Até pouco tempo atrás os que melhor se preparavam em cursinhos pré-vestibulares e escolas privadas, e que apresentavam melhor poder aquisitivo eram os que conseguiam acesso nas universidades federais. Contrário ao que Carnoy, aponta como sendo uma questão da esquerda brasileira, penso que as universidades públicas, e as escolas públicas devem continuar nas mãos dos governos, com uma política de inclusão de pessoas com menor poder aquisitivo, e com direito ao acesso à educação de qualidade com mestres brilhantes.

“A chave para um bom ensino é atrair para a carreira de professor os melhores estudantes.” Em países como Taiwan deu certo, que reuniu algumas das melhores cabeças para o seu quadro de docentes, além do belo salário, comparado a de um engenheiro, houve também a preocupação de despertar o interesse dos mais brilhantes oportunizando uma perspectiva de carreira e o reconhecimento do talento que os distinguia dos outros.

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