quarta-feira, 2 de março de 2022

Cultura - sociedade - relações de dominação. (20.07.2021)

             A cultura em nossa sociedade não é imune às relações de dominação que a caracterizam. Mas é ingênuo pensar que se a cultura comum é usada para fortalecer os interesses das classes dominantes, ela deve ser por isso jogada fora. O que interessa é que a sociedade se democratize e que a opressão política, econômica e cultural seja eliminada. A cultura é um aspecto de nossa realidade e sua transformação, ao mesmo tempo a expressa e a modifica.

É por isso que as lutas pela universalização dos benefícios da cultura são ao mesmo tempo lutas contra as relações de dominação entre as sociedades contemporâneas; e contra as desigualdades básicas das relações sociais no interior das sociedades. São lutas pela transformação da cultura; elas se dão no contexto das muitas sociedades existentes, as quais estão cada vez mais interligadas pelos processos históricos que se vivencia. Cultura é, pois, o legado comum de toda a humanidade.              

Por que o homem adquiriu este processo extrassomático que o diferencia de todos os outros animais? O homem foi o único ser que produziu cultura, a partir de sua evolução primata?  Esta diferenciação está comprovada através da elaboração do seu sistema nervoso, do cérebro em particular, os quais podem além de ver, cheirar e agir, podem representar uma vasta escala de experiências. Podem falar, ler e pensar, e comunicar-se através de representações simbólicas, que se pode chamar de conceitos ou pensamentos expressos por gestos, palavras, dança e arte.

Para alguns pensadores católicos o homem adquiriu cultura quando recebeu do Criador uma alma imortal. E esta só foi atribuída ao primata quando a Divindade considerou que o corpo dele estava pronto para receber uma alma e consequentemente a cultura. A partir destas teorias, o maior desafio dos antropólogos atuais é reconstruir o conceito de cultura, que passa por “um sistema de conhecimento”, “um sistema simbólico que é uma criação acumulativa da mente humana”, “o pensamento humano está submetido a regras inconscientes, ou seja, um conjunto de princípios que controlam as manifestações empíricas de um determinado grupo”, “um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções para governar o comportamento.”

Ao estudar antropologicamente a cultura, volta-se ao movimento e à adaptação. Os antropólogos atuais, depois de examinar e avaliar umas quinhentas formulações e empregos do conceito, deram a seguinte definição:

A cultura consiste em padrões, explícitos e implícitos, de comportamento e para comportamento, adquiridos e transmitidos por símbolos, que constituem as realizações distintivas dos grupos humanos, inclusive suas incorporações em artefatos; o núcleo essencial da cultura consiste nas ideias tradicionais (isto é, recebidas e selecionadas historicamente) e especialmente nos valores que se lhes atribuem; por outro lado. Os sistemas de cultura podem ser considerados como produtos de ação e como elementos condicionantes de ação futura (KROEBER e KLUCKHOHN apud HOEBEL e FROST, 1976 p.4).

Apesar de reconhecer que os hábitos e costumes são repassados de pais para filhos, netos, bisnetos, não se pode incorrer no erro de acreditar que estes mesmos hábitos e costumes não sofrem modificações, influenciados pela dinâmica dos tempos. Uma definição exata sobre o que é cultura significa a compreensão da própria natureza humana – um tema sempre presente nas reflexões. Pode-se entender, então, que o conceito de cultura pode ser abstrato, pois por mais que antropólogos e estudiosos do assunto tentem conceituá-lo, nenhum encontra a maneira mais adequada de expressar este conhecimento através da ótica material, concreta.

Mas... e se, conforme alguns antropólogos, o equipamento fisiológico humano desenvolveu simultaneamente com a cultura, de que maneira prática pode-se comprovar isso? Confúcio, quatro séculos antes de Cristo já enunciava o seguinte: “a natureza do homem é a mesma, são os seus hábitos que os mantêm separados”. Já o antropólogo James Clifford afirmou que, no final do século XX “a análise cultural organiza seus objetos – sociedades, tradições, comunidades, identidades, em termos espaciais” (CLIFFORD apud MCDOWELL,1995 p.182).

Se a sociedade humana é constituída de pessoas; e a cultura é constituída do comportamento das pessoas, pode-se dizer que a pessoa pertence a uma sociedade, mas seria errôneo afirmar que a pessoa pertence a uma cultura; então o indivíduo manifesta a cultura da sociedade.

 

 

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