A cultura em nossa sociedade não é imune às relações de dominação que a caracterizam. Mas é ingênuo pensar que se a cultura comum é usada para fortalecer os interesses das classes dominantes, ela deve ser por isso jogada fora. O que interessa é que a sociedade se democratize e que a opressão política, econômica e cultural seja eliminada. A cultura é um aspecto de nossa realidade e sua transformação, ao mesmo tempo a expressa e a modifica.
É por isso que as lutas pela universalização dos benefícios
da cultura são ao mesmo tempo lutas contra as relações de dominação entre as
sociedades contemporâneas; e contra as desigualdades básicas das relações
sociais no interior das sociedades. São lutas pela transformação da cultura;
elas se dão no contexto das muitas sociedades existentes, as quais estão cada
vez mais interligadas pelos processos históricos que se vivencia. Cultura é,
pois, o legado comum de toda a humanidade.
Por que o homem adquiriu este processo extrassomático que o
diferencia de todos os outros animais? O homem foi o único ser que produziu
cultura, a partir de sua evolução primata?
Esta diferenciação está comprovada através da elaboração do seu sistema
nervoso, do cérebro em particular, os quais podem além de ver, cheirar e agir,
podem representar uma vasta escala de experiências. Podem falar, ler e pensar,
e comunicar-se através de representações simbólicas, que se pode chamar de
conceitos ou pensamentos expressos por gestos, palavras, dança e arte.
Para alguns pensadores católicos o homem adquiriu cultura
quando recebeu do Criador uma alma imortal. E esta só foi atribuída ao primata
quando a Divindade considerou que o corpo dele estava pronto para receber uma
alma e consequentemente a cultura. A partir destas teorias, o maior desafio dos
antropólogos atuais é reconstruir o conceito de cultura, que passa por “um
sistema de conhecimento”, “um sistema simbólico que é uma criação acumulativa
da mente humana”, “o pensamento humano está submetido a regras inconscientes,
ou seja, um conjunto de princípios que controlam as manifestações empíricas de
um determinado grupo”, “um conjunto de mecanismos de controle, planos,
receitas, regras, instruções para governar o comportamento.”
Ao estudar antropologicamente a cultura, volta-se ao
movimento e à adaptação. Os antropólogos atuais, depois de examinar e avaliar
umas quinhentas formulações e empregos do conceito, deram a seguinte definição:
A cultura consiste em padrões, explícitos e implícitos, de
comportamento e para comportamento, adquiridos e transmitidos por símbolos, que
constituem as realizações distintivas dos grupos humanos, inclusive suas
incorporações em artefatos; o núcleo essencial da cultura consiste nas ideias
tradicionais (isto é, recebidas e selecionadas historicamente) e especialmente
nos valores que se lhes atribuem; por outro lado. Os sistemas de cultura podem
ser considerados como produtos de ação e como elementos condicionantes de ação
futura (KROEBER e KLUCKHOHN apud HOEBEL e FROST, 1976 p.4).
Apesar de reconhecer que os hábitos e costumes são
repassados de pais para filhos, netos, bisnetos, não se pode incorrer no erro
de acreditar que estes mesmos hábitos e costumes não sofrem modificações,
influenciados pela dinâmica dos tempos. Uma definição exata sobre o que é
cultura significa a compreensão da própria natureza humana – um tema sempre
presente nas reflexões. Pode-se entender, então, que o conceito de cultura pode
ser abstrato, pois por mais que antropólogos e estudiosos do assunto tentem
conceituá-lo, nenhum encontra a maneira mais adequada de expressar este
conhecimento através da ótica material, concreta.
Mas... e se, conforme alguns antropólogos, o equipamento
fisiológico humano desenvolveu simultaneamente com a cultura, de que maneira
prática pode-se comprovar isso? Confúcio, quatro séculos antes de Cristo já
enunciava o seguinte: “a natureza do homem é a mesma, são os seus hábitos que
os mantêm separados”. Já o antropólogo James Clifford afirmou que, no final do
século XX “a análise cultural organiza seus objetos – sociedades, tradições,
comunidades, identidades, em termos espaciais” (CLIFFORD apud MCDOWELL,1995
p.182).
Se a sociedade humana é constituída de pessoas; e a cultura
é constituída do comportamento das pessoas, pode-se dizer que a pessoa pertence
a uma sociedade, mas seria errôneo afirmar que a pessoa pertence a uma cultura;
então o indivíduo manifesta a cultura da sociedade.
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