Esse texto vem do meu trabalho de conclusão de curso da graduação em geografia. O trabalho de pesquisa que desenvolvi foi relacionado à geografia cultural na educação básica. Para tal, escolhi iniciar o estudo buscando os conceitos de cultura. O que é cultura?
Cultura é uma palavra de origem latina, seu
significado está ligado às atividades agrícolas e vem do verbo latino “colere”, que significa cultivar.
Uma preocupação da cultura é entender os muitos
caminhos que conduziram os grupos humanos e suas perspectivas de futuro. Como
registra a história, são muitas as transformações em relação à cultura, pois
expressam diferentes tempos e espaços, portanto, contextos diferenciados.
Assim, cultura diz respeito à humanidade como um todo,
e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades, e grupos humanos. De
fato, entender isso é uma preocupação importante da conquista contemporânea.
As diferentes formas de organização familiar, por
exemplo, ou as maneiras de habitar, de se vestir ou de utilizar os produtos do
trabalho não são em vão. Assim, cada cultura é o resultado de uma história
particular, e isso inclui também suas relações com outras culturas, as quais
podem ter características bem diferentes.
A diversidade das culturas existentes acompanha a
variedade da história humana, expressa as possibilidades de vida social
organizada e registra graus e formas diferentes de domínio humano sobre a
natureza.
Não há superioridade ou inferioridade de culturas ou
traços culturais de modo absoluto, não há nenhuma lei natural que diga que as
características as façam superior a outras culturas. Existem, no entanto,
processos históricos que as relacionam e estabelecem marcas verdadeiras e
concretas entre elas.
As culturas e sociedades humanas se relacionam de modo
desigual. As relações internacionais registram desigualdades de poder em todos
os sentidos, as quais hierarquizam de fato os povos e nações. É necessário
reconhecer a cultura predominante e buscar sua continuidade ou não. Se se
pensa, por exemplo, na sociedade brasileira ver-se-á que ela tem traços
culturais únicos e próprios, originários de sua forma de agir e pensar, dos
costumes e tradições do seu povo, como o carnaval, o futebol, a forma de
vestir, o gosto musical, a alegria... Esses traços têm relação com as classes e
grupos sociais, com a região, com a população, com a idade, com o grau de
escolarização; todos esses aspectos refletem o quadro cultural do Brasil.
A cultura envolve basicamente duas concepções: a
primeira remete a todos os aspectos de uma realidade social, sua história; a
segunda refere-se mais especificamente ao conhecimento, às ideias e crenças de
um povo, manifestações culturais e artísticas.
Cultura envolve um conceito amplo e global das
sociedades, enfatizando relações miúdas de significado; assim só se entende a
importância das brincadeiras infantis, por exemplo, estudando toda formação
cultural que se dá às crianças e localizando-as dentro desta. Precisamos,
portanto, considerar que a própria cultura é um motivo de conflitos de
interesses nas sociedades contemporâneas, um conflito pela sua definição, pelo
seu controle, pelos benefícios que pode assegurar.
Cultura, portanto, é uma dimensão do processo social,
da vida de uma sociedade. Não diz respeito apenas a um conjunto de práticas e
concepções, como, por exemplo, poder-se-ia dizer da arte. Não é apenas uma
parte da vida social, como se poderia falar da religião. Não se pode dizer que
cultura seja algo independente da vida social, algo que nada tem a ver com a realidade
onde exista. Cultura, assim, envolve todos os aspectos da vida social, e não se
pode dizer que ela existe em alguns contextos e não em outros.
Segundo
os autores HOEBEL e FROST (1976 p.21), a
ciência moderna considera, em muitos campos, que o todo, não
é meramente a soma de todas as suas partes, mas o resultado de um arranjo único
e de uma inter-relação das partes, o que constitui uma nova entidade.
Cultura é uma construção histórica, seja como concepção, ou como dimensão do processo social. Cultura não é um processo natural e biológico, é um produto coletivo da vida humana, que tem como objetivo impulsionar a vida das sociedades em favor do progresso social e da liberdade, em favor da luta contra a exploração de uma parte da sociedade por outra, em favor da superação da opressão e da desigualdade.
A cultura em nossa sociedade não é imune às relações
de dominação que a caracterizam. Mas é ingênuo pensar que se a cultura comum é
usada para fortalecer os interesses das classes dominantes, ela deve ser por
isso jogada fora. O que interessa é que a sociedade se democratize e que a
opressão política, econômica e cultural seja eliminada. A cultura é um aspecto
de nossa realidade e sua transformação, ao mesmo tempo a expressa e a modifica.
É por isso que as lutas pela
universalização dos benefícios da cultura são ao mesmo tempo lutas contra as
relações de dominação entre as sociedades contemporâneas; e contra as
desigualdades básicas das relações sociais no interior das sociedades. São
lutas pela transformação da cultura; elas se dão no contexto das muitas
sociedades existentes, as quais estão cada vez mais interligadas pelos
processos históricos que se vivencia. Cultura é, pois, o legado comum de toda a
humanidade. Por que o homem adquiriu este processo extrassomático que o
diferencia de todos os outros animais? O homem foi o único ser que produziu
cultura, a partir de sua evolução primata?
Esta diferenciação está comprovada através da elaboração do seu sistema
nervoso, do cérebro em particular, os quais podem além de ver, cheirar e agir,
podem representar uma vasta escala de experiências. Podem falar, ler e pensar,
e comunicar-se através de representações simbólicas, que se pode chamar de
conceitos ou pensamentos expressos por gestos, palavras, dança e arte.
Para alguns pensadores católicos o
homem adquiriu cultura quando recebeu do Criador uma alma imortal. E esta só
foi atribuída ao primata quando a Divindade considerou que o corpo dele estava
pronto para receber uma alma e consequentemente a cultura. A partir destas
teorias, o maior desafio dos antropólogos atuais é reconstruir o conceito de
cultura, que passa por “um sistema de conhecimento”, “um sistema simbólico que
é uma criação acumulativa da mente humana”, “o pensamento humano está submetido
a regras inconscientes, ou seja, um conjunto de princípios que controlam as
manifestações empíricas de um determinado grupo”, “um conjunto de mecanismos de
controle, planos, receitas, regras, instruções para governar o comportamento.”
Ao estudar antropologicamente a
cultura, volta-se ao movimento e à adaptação. Os antropólogos atuais, depois de
examinar e avaliar umas quinhentas formulações e empregos do conceito, deram a
seguinte definição:
A cultura consiste em padrões,
explícitos e implícitos, de comportamento e para comportamento, adquiridos e
transmitidos por símbolos, que constituem as realizações distintivas dos grupos
humanos, inclusive suas incorporações em artefatos; o núcleo essencial da
cultura consiste nas ideias tradicionais (isto é, recebidas e selecionadas
historicamente) e especialmente nos valores que se lhes atribuem; por outro
lado. Os sistemas de cultura podem ser considerados como produtos de ação e
como elementos condicionantes de ação futura (KROEBER e KLUCKHOHN apud HOEBEL e FROST, 1976 p.4).
Apesar de reconhecer que os hábitos
e costumes são repassados de pais para filhos, netos, bisnetos, não se pode
incorrer no erro de acreditar que estes mesmos hábitos e costumes não sofrem
modificações, influenciados pela dinâmica dos tempos. Uma definição exata sobre
o que é cultura significa a compreensão da própria natureza humana – um tema
sempre presente nas reflexões. Pode-se entender, então, que o conceito de
cultura pode ser abstrato, pois por mais que antropólogos e estudiosos do
assunto tentem conceituá-lo, nenhum encontra a maneira mais adequada de
expressar este conhecimento através da ótica material, concreta.
Mas... e se, conforme alguns antropólogos, o
equipamento fisiológico humano desenvolveu simultaneamente com a cultura, de
que maneira prática pode-se comprovar isso? Confúcio, quatro séculos antes de
Cristo já enunciava o seguinte: “a natureza do homem é a mesma, são os seus
hábitos que os mantêm separados”. Já o antropólogo James Clifford afirmou que,
no final do século XX “a análise cultural organiza seus objetos – sociedades,
tradições, comunidades, identidades, em termos espaciais” (CLIFFORD apud MCDOWELL,1995 p.182). Se a
sociedade humana é constituída de pessoas; e a cultura é constituída do
comportamento das pessoas, pode-se dizer que a pessoa pertence a uma sociedade,
mas seria errôneo afirmar que a pessoa pertence a uma cultura; então o
indivíduo manifesta a cultura da
sociedade.
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