quarta-feira, 2 de março de 2022

O QUE É CULTURA? (13.07.2021)

 Esse texto vem do meu trabalho de conclusão de curso da graduação em geografia. O trabalho de pesquisa que desenvolvi foi relacionado à geografia cultural na educação básica. Para tal, escolhi iniciar o estudo buscando os conceitos de cultura. O que é cultura?

Cultura é uma palavra de origem latina, seu significado está ligado às atividades agrícolas e vem do verbo latino “colere”, que significa cultivar.

Uma preocupação da cultura é entender os muitos caminhos que conduziram os grupos humanos e suas perspectivas de futuro. Como registra a história, são muitas as transformações em relação à cultura, pois expressam diferentes tempos e espaços, portanto, contextos diferenciados.

Assim, cultura diz respeito à humanidade como um todo, e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades, e grupos humanos. De fato, entender isso é uma preocupação importante da conquista contemporânea.

As diferentes formas de organização familiar, por exemplo, ou as maneiras de habitar, de se vestir ou de utilizar os produtos do trabalho não são em vão. Assim, cada cultura é o resultado de uma história particular, e isso inclui também suas relações com outras culturas, as quais podem ter características bem diferentes.

A diversidade das culturas existentes acompanha a variedade da história humana, expressa as possibilidades de vida social organizada e registra graus e formas diferentes de domínio humano sobre a natureza.

Não há superioridade ou inferioridade de culturas ou traços culturais de modo absoluto, não há nenhuma lei natural que diga que as características as façam superior a outras culturas. Existem, no entanto, processos históricos que as relacionam e estabelecem marcas verdadeiras e concretas entre elas.

As culturas e sociedades humanas se relacionam de modo desigual. As relações internacionais registram desigualdades de poder em todos os sentidos, as quais hierarquizam de fato os povos e nações. É necessário reconhecer a cultura predominante e buscar sua continuidade ou não. Se se pensa, por exemplo, na sociedade brasileira ver-se-á que ela tem traços culturais únicos e próprios, originários de sua forma de agir e pensar, dos costumes e tradições do seu povo, como o carnaval, o futebol, a forma de vestir, o gosto musical, a alegria... Esses traços têm relação com as classes e grupos sociais, com a região, com a população, com a idade, com o grau de escolarização; todos esses aspectos refletem o quadro cultural do Brasil.

A cultura envolve basicamente duas concepções: a primeira remete a todos os aspectos de uma realidade social, sua história; a segunda refere-se mais especificamente ao conhecimento, às ideias e crenças de um povo, manifestações culturais e artísticas.

Cultura envolve um conceito amplo e global das sociedades, enfatizando relações miúdas de significado; assim só se entende a importância das brincadeiras infantis, por exemplo, estudando toda formação cultural que se dá às crianças e localizando-as dentro desta. Precisamos, portanto, considerar que a própria cultura é um motivo de conflitos de interesses nas sociedades contemporâneas, um conflito pela sua definição, pelo seu controle, pelos benefícios que pode assegurar.

Cultura, portanto, é uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não diz respeito apenas a um conjunto de práticas e concepções, como, por exemplo, poder-se-ia dizer da arte. Não é apenas uma parte da vida social, como se poderia falar da religião. Não se pode dizer que cultura seja algo independente da vida social, algo que nada tem a ver com a realidade onde exista. Cultura, assim, envolve todos os aspectos da vida social, e não se pode dizer que ela existe em alguns contextos e não em outros.

  Segundo  os autores HOEBEL e FROST (1976 p.21), a ciência moderna considera, em muitos campos, que o todo, não é meramente a soma de todas as suas partes, mas o resultado de um arranjo único e de uma inter-relação das partes, o que constitui uma nova entidade.

Cultura é uma construção histórica, seja como concepção, ou como dimensão do processo social. Cultura não é um processo natural e biológico, é um produto coletivo da vida humana, que tem como objetivo impulsionar a vida das sociedades em favor do progresso social e da liberdade, em favor da luta contra a exploração de uma parte da sociedade por outra, em favor da superação da opressão e da desigualdade.

A cultura em nossa sociedade não é imune às relações de dominação que a caracterizam. Mas é ingênuo pensar que se a cultura comum é usada para fortalecer os interesses das classes dominantes, ela deve ser por isso jogada fora. O que interessa é que a sociedade se democratize e que a opressão política, econômica e cultural seja eliminada. A cultura é um aspecto de nossa realidade e sua transformação, ao mesmo tempo a expressa e a modifica.

É por isso que as lutas pela universalização dos benefícios da cultura são ao mesmo tempo lutas contra as relações de dominação entre as sociedades contemporâneas; e contra as desigualdades básicas das relações sociais no interior das sociedades. São lutas pela transformação da cultura; elas se dão no contexto das muitas sociedades existentes, as quais estão cada vez mais interligadas pelos processos históricos que se vivencia. Cultura é, pois, o legado comum de toda a humanidade. Por que o homem adquiriu este processo extrassomático que o diferencia de todos os outros animais? O homem foi o único ser que produziu cultura, a partir de sua evolução primata?  Esta diferenciação está comprovada através da elaboração do seu sistema nervoso, do cérebro em particular, os quais podem além de ver, cheirar e agir, podem representar uma vasta escala de experiências. Podem falar, ler e pensar, e comunicar-se através de representações simbólicas, que se pode chamar de conceitos ou pensamentos expressos por gestos, palavras, dança e arte.

Para alguns pensadores católicos o homem adquiriu cultura quando recebeu do Criador uma alma imortal. E esta só foi atribuída ao primata quando a Divindade considerou que o corpo dele estava pronto para receber uma alma e consequentemente a cultura. A partir destas teorias, o maior desafio dos antropólogos atuais é reconstruir o conceito de cultura, que passa por “um sistema de conhecimento”, “um sistema simbólico que é uma criação acumulativa da mente humana”, “o pensamento humano está submetido a regras inconscientes, ou seja, um conjunto de princípios que controlam as manifestações empíricas de um determinado grupo”, “um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções para governar o comportamento.”

Ao estudar antropologicamente a cultura, volta-se ao movimento e à adaptação. Os antropólogos atuais, depois de examinar e avaliar umas quinhentas formulações e empregos do conceito, deram a seguinte definição:

 

A cultura consiste em padrões, explícitos e implícitos, de comportamento e para comportamento, adquiridos e transmitidos por símbolos, que constituem as realizações distintivas dos grupos humanos, inclusive suas incorporações em artefatos; o núcleo essencial da cultura consiste nas ideias tradicionais (isto é, recebidas e selecionadas historicamente) e especialmente nos valores que se lhes atribuem; por outro lado. Os sistemas de cultura podem ser considerados como produtos de ação e como elementos condicionantes de ação futura (KROEBER e KLUCKHOHN apud HOEBEL e FROST, 1976 p.4).

 

Apesar de reconhecer que os hábitos e costumes são repassados de pais para filhos, netos, bisnetos, não se pode incorrer no erro de acreditar que estes mesmos hábitos e costumes não sofrem modificações, influenciados pela dinâmica dos tempos. Uma definição exata sobre o que é cultura significa a compreensão da própria natureza humana – um tema sempre presente nas reflexões. Pode-se entender, então, que o conceito de cultura pode ser abstrato, pois por mais que antropólogos e estudiosos do assunto tentem conceituá-lo, nenhum encontra a maneira mais adequada de expressar este conhecimento através da ótica material, concreta.

Mas... e se, conforme alguns antropólogos, o equipamento fisiológico humano desenvolveu simultaneamente com a cultura, de que maneira prática pode-se comprovar isso? Confúcio, quatro séculos antes de Cristo já enunciava o seguinte: “a natureza do homem é a mesma, são os seus hábitos que os mantêm separados”. Já o antropólogo James Clifford afirmou que, no final do século XX “a análise cultural organiza seus objetos – sociedades, tradições, comunidades, identidades, em termos espaciais” (CLIFFORD apud MCDOWELL,1995 p.182). Se a sociedade humana é constituída de pessoas; e a cultura é constituída do comportamento das pessoas, pode-se dizer que a pessoa pertence a uma sociedade, mas seria errôneo afirmar que a pessoa pertence a uma cultura; então o indivíduo manifesta a cultura da sociedade.

Nenhum comentário:

O GOSTO POR APRENDER E ENSINAR

                                                                                                    Os trabalhos apresentados na obra O gost...