domingo, 5 de abril de 2009

Onde habita essa tal felicidade? A felicidade é uma utopia?

Já faz algum tempo que se ouvem frases feitas em relação a tal felicidade “Felicidade não existe o que existe são momentos felizes”. Thomas More, um brilhante escritor, que escreveu Utopia, foi capaz de estruturar e formular teoricamente um modelo de sociedade a partir de uma crítica obstinada à organização social de seu tempo, incluindo a felicidade como um dom divino. Outro pensador ilustre, Bertrand Russell, assim como o primeiro, na Inglaterra, cinco décadas mais tarde também escreveu sobre a felicidade. Desde os princípios da sua adolescência começou a mostrar-se cético acerca dos dogmas religiosos, convencido de que a felicidade terrena era o fim essencial da vida. E no presente, a felicidade está fragmentada à vida das pessoas. O que se perdeu ao longo dos anos? O que a humanidade ganhou e não percebeu?

As idéias de Thomas More eram profundamente humanistas, estavam marcadas por contradições, dualismos e paradoxos. O bem e o mal eram questionados a luz da razão e do misticismo ao mesmo tempo. Enquanto ele desacreditava da bondade humana e de suas leis, tinha pelo homem um carinho quase metafísico que vem da crença na justiça eterna e na imortalidade da alma. Foi decapitado em 1535 por se negar a abandonar o catolicismo, a mando de Henrique XVIII. Ele acreditava que a predominância das necessidades coletivas está baseada na filosofia do prazer. É pensando em felicidade e nos prazeres que se pode dar sentido e razão a existência dessa sociedade: o bem comum, a igualdade, a ausência de orgulho mesquinho e a busca pelo prazer.

Nessa sociedade a felicidade tinha de ser pensada coletivamente. Não teria sentido um mundo de igualdade se não fosse pensado com o intuito de alcançar a felicidade. A busca pelo prazer é o que vai dar uma razão ideológica para essa sociedade igualitária e rigidamente controlada. More entendeu como dialética a relação entre igualdade e liberdade e optou pela igualdade. Tendo em vista alcançar o bem comum e a felicidade coletiva, ao mesmo tempo objetivos e instrumentos ideológicos para a construção e manutenção dessa sociedade, viu na igualdade material a estrutura básica para essa sociedade, entretanto teve dificuldades em inserir liberdades individuais nesse universo.

E Bertrand Russell em seu livro A conquista da Felicidade coloca que “A felicidade de um reformador ou de um revolucionário depende da evolução dos negócios públicos, mas possivelmente, mesmo quando é executado, goza duma felicidade mais real do que a do cínico que vive confortavelmente. O que me fez lembrar um jovem chinês que visitou a minha escola e ia regressar ao seu país para fundar uma escola semelhante numa região reacionária da China. Em resultado deste empreendimento, ele poderia ser decapitado. No entanto gozava de uma felicidade tranqüila que eu não podia deixar de invejar. Não desejo sugerir porém, que essa espécie de felicidade, um tanto orgulhosa, seja a única possível, até porque ela não é acessível senão a uma minoria, pois exige determinadas capacidades e uma extensão de interesses que não são muito vulgares.”

Como fazer com que o prazer do trabalho seja acessível a todos e que exerçam qualquer atividade que requeira perícia ou saber especial, desde que possam achar satisfação no exercício dos seus talentos sem necessidade de aprovação universal? Como oportunizar ao cidadão a busca do prazer, sem que o seu possa resultar em prejuízo, ou mal a outrem? Hoje não é mais uma ilha onde vivem os cidadãos. A ilha Utopia se tornou uma grande aldeia global e a felicidade habita de maneira individualizada, talvez por isso a fragmentação. E também, talvez por isso, a impossibilidade de se pensar em uma sociedade justa, solidária e igualitária. As probabilidades futuras são de que milhares de pessoas estarão à margem das coisas indispensáveis à felicidade, as coisas mais simples: a alimentação, a casa, a saúde, o amor, o êxito no trabalho, o respeito das pessoas que as rodeiam. A felicidade para estas pessoas é uma utopia?

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