Será que uma única criança passa pela
escola sem ser deformada por ela? O que é possível pensar sobre a da educação
no Brasil? Será que há falta de verbas e recursos materiais? Será que a
condição de indigência dos professores resulta no mau aproveitamento dos
alunos? Será que se houvesse mais dinheiro a educação ficaria melhor? Os alunos
aprenderiam mais e os professores seriam mais felizes?
Rubem Alves dizia que “Educação não se
faz com dinheiro. Se faz com inteligência e que coisas lindas acontecem pelo
Brasil afora, no campo da educação”. Assim como ele, acredito que em despeito a
coisas ruins e andando na direção contrária, há professores que amam os seus
alunos e sentem prazer em ensinar. E que não existe coisa mais importante na
vida das pessoas quanto o acesso ao conhecimento e à educação.
Num país que se diz democrático, a
democracia só se fará plena se o povo for educado. Povo educado não significa
ter certificados de cursos do ensino médio, ou profissionalizante, ou diploma
superior, mas sim, ter a capacidade de pensar. Os diplomas são atestados,
daqueles que os portam, de um certo tipo de conhecimento. E algum tipo de conhecimento
não significa que sabe pensar. São somente arquivos cheios de informações, as
quais atualmente são facilmente acessadas na “nuvem”, na rede.
Há inúmeros artigos depositados em
bibliotecas eletrônicas. As universidades são avaliadas pela quantidade de
artigos científicos publicados nas mais diversas revistas nacionais e
internacionais em línguas estrangeiras. Há uma reprodução sistemática dos temas
visando maior quantidade de artigos, pois não há critérios que avaliem as
universidades por sua capacidade de fazer o povo pensar. De que adianta uma
quantidade de artigos publicados, porém restrito clube internacional de
cientistas?
Enquanto se consolidam as rotinas, e as
repetições, o pensamento paralisa. Devemos voltar lá no pensamento grego, eles
sabiam que o conhecimento só se inicia quando o familiar deixa de ser familiar;
quando nos espantamos diante dele; quando ele se transforma num enigma. E Hegel
diz "O que é conhecido com familiaridade, não é conhecido pelo simples
fato de ser familiar".
Rubem Alves, acrescenta que toda a
atividade humana é um esforço para construir casas. Casas são o espaço
conhecido e protegido onde a vida tem maiores condições de sobreviver. Espaço
familiar. Piaget sugeriu que o corpo deseja transformar o espaço que o rodeia
numa extensão de si mesmo. Esse espaço, extensão do corpo, é a nossa casa.
Da necessidade de construir uma casa
surge a ciência dos materiais, a física mecânica, a hidráulica, o conhecimento
e o domínio do fogo. Da necessidade de comer surgem as ciências das hortas e da
agricultura. Da necessidade estética de beleza surge a ciência da jardinagem.
Da necessidade de viajar para caçar e comerciar surge a ciência dos mapas, a
geografia. Da necessidade de navegar surge a astronomia. E assim vai o corpo,
expandindo-se cada vez mais, para que o espaço desconhecido e inimigo ao seu
redor se transforme em espaço conhecido e amigo. Até mesmo o universo.
Com isso, a primeira lição para os
educadores que Rubem Alves propõe é de não ensinar as crianças, mas sim aprender
delas. Na vida de uma criança a gente vê o pensamento nascendo - antes mesmo da
gente querer fazer qualquer coisa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário