As ICES surgiram num período marcado por uma série de experiências entre universidade e sociedade, em consonância a essa premissa temos a Lei 5.540/68, de 28 de novembro de 1968 da Reforma Universitária de 1968 e seus artigos 20 e 40. Em nível mundial, vivia-se sob o conflito denominado de Guerra Fria, e podemos dizer que diversos setores da sociedade centralizavam suas preocupações na propagação das ideias comunistas e, por outro viés, a crescente influência dos Estados Unidos. No Brasil, essas duas ideologias se constituíram na base de sustentação dos governos que se sucederam até 1964, impactaram o ensino superior, condicionando as tendências que marcaram seu desenvolvimento e sua expansão por todo o país durante esse período.
Até 1961, “a visão
ideológica caracterizava-se dominantemente como progressista, industrialista,
modernizadora, correspondente, portanto, a uma burguesia que se queria
esclarecida” (SAVIANI, 2013 p. 305); Dourado (2001, p. 39) afirma que a
política desenvolvimentista, adotada pelo Estado é resultante do processo de
monopolização e acelera a expansão do ensino, especificamente do ensino
superior, no período 1946-1964. Segundo Martins (2000, p. 42), a expansão era
necessária, pois o sistema de ensino superior contava com não mais que uma
centena de instituições, em sua maioria, localizadas predominantemente nos
centros urbanos, voltadas para “a reprodução de quadros da elite nacional”.
As ICES do oeste
catarinense foram criadas sob a égide das relações capitalistas de mercado, na
década de 1960, e se instalaram estrategicamente, para além da faixa litorânea,
no interior do Estado, por conta da ausência de políticas públicas de
interiorização da educação superior, e constituíram-se num modelo singular,
diferenciado dos tradicionais modelos contemplados pela legislação brasileira.
Tratou-se de uma iniciativa longe do núcleo centrar de decisões, da periferia,
“de vozes e vontades que querem se fazer ouvir e participar da construção de um
espaço de educação, socialmente mais amplo e democrático” (FRANTZ, 2002, p. 3).
Obviamente, as IES de
caráter comunitário surgiram a partir da organização das comunidades onde estão
inseridas, visando ampliar a oferta e o acesso, para atender à demanda por
ensino superior no interior do Estado e para atender à política
desenvolvimentista industrial vigente.
Com o objetivo atender
às demandas da educação superior, em fins da década de 1960 e início da década
de 1970, as ICES do Oeste catarinense foram se constituindo “entidades sem fins
lucrativos, com a missão de promover a integração dos esforços de consolidação
das instituições de ensino superior por elas mantidas, de executar atividades
de suporte técnico-operacional e de representá-las junto aos órgãos dos
Governos Estadual e Federal” (ACAFE, 1974/2014). Atualmente, são dezesseis
instituições associadas que fazem parte de um sistema singular de educação
superior, a Acafe – Associação Catarinense das Fundações Educacionais, fundada
em 1974.
EU e as ICES.
O sonho juvenil de fazer faculdade logo após concluir o segundo grau, atualmente, ensino médio, foi o início da busca de universidades e cursos. Foram algumas tentativas de entrar em uma universidade federal. No entanto a concorrência era grande. Eu me dedicava aos estudos, fiz até cursinho pré-vestibular, mas não obtive êxito.
Então busquei
alternativa. Num dos primeiros vestibulares, na Unisinos, no início da década
de 1980, fiz algumas disciplinas no curso de Administração de Empresas. Morava
e trabalhava em Porto Alegre. Percorria o trajeto de ônibus todas as noites. Por
isso essa rotina ficou pesada, e precisei escolher entre trabalhar e estudar.
Escolhi o trabalho.
Passaram alguns anos.
Morando em Balneário Camboriú, resolvi voltar para a universidade. Já iniciava
a década de 1990. Fiz vestibular e passei no curso de Hotelaria e Turismo, na
Univali. Dois anos depois, me encontrei novamente na encruzilhada, entre o
trabalho e os estudos. Interrompi mais uma vez o curso superior.
Mais alguns anos se
passaram e minha vida tomou outro rumo. No início da década dos anos 2000, a
vontade de estudar não me abandonou e voltei para a universidade. Fiz uma
escolha levando em consideração alguns gostos, até então escamoteados nas
estradas percorridas. Escolhi o curso de licenciatura plena em geografia, na
URI em Erechim, RS.
Não parei mais de
estudar. Fui para o Mestrado na Unoesc em Joaçaba, SC. Foi então que eu
descobri, na minha pesquisa para a dissertação, que as ICES foram muito
importantes na minha trajetória acadêmica. Unisinos, Univali, URI e Unoesc,
fazem parte deste conjunto de instituições denominadas de comunitárias.
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