Ontem me deu vontade de mexer em algumas coisas guardadas que estavam “um
tanto” bagunçadas no armário. Virei as necessaires de ponta cabeça e espalhei
sobre a cama todos os colares, brincos, anéis, pulseira, braceletes, pingentes.
Em seguida separei todos e juntei os pares de brincos, desembaracei os colares,
separei por tipos idênticos.
Em cada ação uma apreciação e uma lembrança. A maioria dos brincos
ganhei de presente de alguém querido, e ao juntar o par, um sorriso e uma
lembrança do momento que recebi. Lembro com muito carinho das pessoas, pois sei
que me foi dado pelo sentimento que nutre e pelos laços que nos une.
Confesso que ao pegar alguns presentes nas mãos pensei: puxa que lindo,
e quando ganhei nem expressei o tanto de alegria que estou sentindo agora. Por
que agi daquela maneira naquele momento? Talvez a pessoa tenha escolhido com
todo amor e carinho e esperava receber de volta minha gratidão também com muito
amor e carinho. E não o fiz. Por isso, ontem ao remexer nos objetos remexi
também as lembranças. Lembrei de todas as pessoas que estavam ali, naqueles
objetos representados, e mandei muita energia de amor e gratidão.
Foi assim que comecei a refletir sobre a questão de dar e receber. Por
que será que recebi tão lindos presentes? Para alguns eu lembro de ter dado
presentes bem bacanas também. Para outras pessoas, recebi mais do que dei, em
presentes. Mas por ter recebido tanto carinho materializado em objetos de uso pessoal,
penso que devo ter oferecido algo que gerou um sentimento de gratidão a ponto
de ser retribuído dessa forma.
Do momento que decidi organizar minhas necessaires até o término, durou
aproximadamente duas horas, com algumas interrupções. Da memória vieram as lembranças,
e um filme lindo foi criado em minha mente. Resumo tudo isso em uma só palavra
gratidão.
O que trazemos em nossa bagagem emocional? Será que temos algo tão
precioso que podemos dar ao outro? Nem sempre. Precisamos refletir e aprofundar
a investigação no nosso interior e reconhecer o que faz morada dentro de nós.
E você? Sabe o que carrega lá no seu íntimo, no seu coração? Há paz,
amor, sabedoria, humildade, gratidão, perdão? Ou há ódio, mágoa,
desentendimento, desejo de vingança, egoísmo, vaidades? Quando nos dermos
conta, de fato, do que há dentro de nós, vamos saber quem de fato somos, e
assim poderemos dar sentido ao que nosso coração diz sobre nós.
Quando nos despimos das vaidades do ego nosso coração fica igual ao de
uma criança. A criança não tem maldade, não pensa em se vingar, não quer
humilhar ninguém. Uma criança se basta no brincar e na alegria de aproveitar o
momento.
Quando nosso coração estiver aberto, podemos amar com a mesma inocência de uma criança, e perdoar com um sorriso, se houver motivos para perdoar. Assim nosso coração pode permanecer em paz, repleto de amor e gratidão. Para que os relacionamentos sejam duradouros, e que deem certo é extremamente importante que haja equilíbrio entre dar e receber, e que o outro seja respeitado por sua individualidade divina.
*Carlos Ruiz Zafón
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