sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

O reconhecimento dos obstáculos internos e a ação espontânea. (20.01.2021)

 Dos obstáculos internos que impedem de ser espontâneo, dando continuidade ao texto da edição anterior, consideramos o querer ativo, que traduzimos como ansiedade. Há um grande número de pessoas que tem essa condição, sem se darem conta. Vivem obcecadas e ficam presas em um loop de auto obsessão, que por si só, as paralisa e paralisa o fluxo de suas vidas. A auto obsessão é quando o objeto do seu querer, que é sempre um pensamento a ser atingido, absorve a sua atenção, por conta da energia que se perde pelo querer ativo, que dota tal pensamento com grande poder de capturar a sua atenção.

              O mapeamento e o reconhecimento dos obstáculos internos, já citados, são aprendizados e se configuram em atitudes que repreendem a expressão da nossa natureza, logo da nossa espontaneidade. O reconhecimento dos obstáculos dará as condições para modificar nosso posicionamento, as nossas atitudes, para que então restauremos a unidade com a nossa natureza.

As pessoas que se queixam que a vida não está caminhando ou estão muito paradas, paradoxalmente, são pessoas que querem muito que a vida mude. São pessoas que esperam demais dos outros e das situações, e também terceirizam a sua auto estima. Em outras palavras, são pessoas que estão presas no controle, em oposição a sua própria espontaneidade. Isso é um grande paradoxo. Ao mesmo tempo querem muito, que a vida caminhe e se desenvolva, mas atuam, exatamente, contrariando o que almejam.  

Geralmente o que se observa são pessoas que colocam mais o foco no querer, do que no entrar em harmonia consigo mesmas e com a vida. Há um efeito muito conhecido na mecânica quântica, chamado de efeito z. Muitas vezes temos a impressão de que alteramos a velocidade de certos eventos, a ponto de retardar ou até mesmo “congelar”, momentaneamente, a realidade como se derrotássemos o tempo. Seria mesmo apenas uma impressão?

Um exemplo é o fenômeno da chaleira vigiada. Muito provavelmente até já passamos por alguma experiência do tipo. Quando estamos apressados para um compromisso, nessas horas tudo parece conspirar a favor do nosso atraso. Quando estamos aguardando o leite ferver, simplesmente, ele cisma em não ferver.  E quando nos descuidamos, por achar que levará ainda um tempo, nos deparamos com a cena lamentável de um fogão inundado pelo leite quente. O que aconteceu de fato?

A chaleira estava tentando  nos pregar uma peça? Por incrível que pareça, nessa experiência algo muito complexo está acontecendo. Nossa mente potencializada pela disposição interna está simplesmente provocando um efeito quântico que foi inclusive confirmado em laboratórios a partir de estudos de sistemas atômicos.

 

Efeito Z de Zenão, em nossa realidade

 O efeito quântico Zenão recebeu essa nomenclatura por fazer referência a Zenão de Eleia, filósofo grego, seu idealizador que adorava propor paradoxo. Na versão quântica do paradoxo da flecha, físicos teóricos postularam, em 1977, que se um sistema quântico for medido com frequência suficiente, seu estado será incapaz de progredir; como se o ditado “panela vigiada não ferve” fosse verdadeiro. Geralmente os átomos e as partículas sub atômicas estão em geral, no estado contínuo de flutuação energética passando de um nível de energia a outro retornando ao anterior, ou seja, o sistema atômico fazia com que o sistema mantivesse infinitamente o mesmo nível de energia, como se o processo de observação congelasse o sistema.

Trazendo esse efeito quântico para a nossa realidade, podemos aprender a inibi-lo, ou até mesmo deflagrá-lo de maneira a contribuir para a manifestação de mudanças em nossas vidas. Tudo que temos a fazer é nos observar, e questionarmos até que ponto estamos gerando expectativas exageradas para a ocorrência de um dado evento. Quanto mais expectativas gerarmos, mais difícil será alterarmos a realidade para que o objetivo almejado aconteça. Quanto mais atenção damos a algum problema, quanto maior a frequência em que pensamos nele, mais garantindo sua permanência. Isso quer dizer, concentrar-se em um problema, mais o fortalecemos. Portanto se desejamos acessar uma realidade plena, deveremos ter clareza de tal possibilidade, liberar a nossa mente, e não gerar expectativas, pois assim, estaremos estacionados na realidade anterior que não dará lugar a realidade nova.

Um exemplo simples deste movimento é de uma pessoa doente que dá atenção excessiva a sua doença. Ao gerar expectativa para a sua cura, simplesmente garantirá que ela se mantenha estacionada na linha do tempo da da doença, impedindo o acesso a realidade nova, na qual ela já está restaurada em perfeita saúde.

O foco de um pensamento motivado por um querer ativo, isto é, ansiedade, é o suficiente para alterar as probabilidades para que o evento não ocorra. Todo o pensamento carregado de ansiedade faz com que o leque de possibilidades se restrinja a uma única realidade provável, a daquela em que a ansiedade, se justifique. Isto é, a realidade na qual o resultado não é alcançado. A melhor postura para aumentar a probabilidade de um evento ocorrer é tomarmos consciência daquilo que objetivamos, abstraindo-se naquela possibilidade e liberando assim ansiedade.

Retomamos o princípio taoísta, wei wu wei, que nos devolve a propriedade de fazer com que as coisas aconteçam de forma mais rápida, onde a ação espontânea é baseada em um estado interno mais livre, mais solto, mais flexível. É preciso sentir a harmonia entre o nosso eu e a realidade provável que se busca atingir,  ou da linha do tempo alternativa que se quer acessar. Quanto mais adotarmos um modo de vida baseado em wei wu wei, ou seja, o equilíbrio entre foco e ausência de tensão interna mais aguda se torna a percepção ou a consciência do observador, e mais rápido provocamos mudanças em nossas vidas

A ação perfeita sempre emerge de um estado espontâneo. Ações espontâneas produzem grandes resultados e tendem a nos colocar em ritmo com as possibilidades que se encaixam perfeitamente conosco. Incorporar o princípio do wei wu wei, permite que sejamos cada vez mais espontâneos e nos sentirmos cada vez mais fortes, mais criativos e mais vivos.

Busquemos e sustentemos o equilíbrio, entre a clareza do que se almeja, foco; e a liberação interna, a ausência absoluta de tensão. Tal atitude requer a incorporação diária desta prática. Reconheçamos os obstáculos interiores, para que nos tornemos cada vez mais naturais. Wei wu wei é um princípio que nos conecta com a natureza do todo, que também é a nossa própria natureza. A leveza no viver, a clareza em nosso foco é a chave para uma vida genuinamente bem sucedida e muito feliz.

Os textos desta edição e das duas anteriores, estão fundamentados nas aulas do professor Horácio Frazão, na jornada de autoconhecimento e a partir da sua percepção de mundo, disponível no Portal Metaflix https://horaciofrazao.metaflix.com.br/.

 

 

 

Nenhum comentário:

O GOSTO POR APRENDER E ENSINAR

                                                                                                    Os trabalhos apresentados na obra O gost...